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Após fuga de líder do CV, Paraguai quer usar as Forças Armadas contra o narcotráfico

Nesta quinta, o presidente Benítez disse reconhecer que houve corrupção no caso


Diante de uma força crescente das facções brasileiras, o presidente do Paraguai Mario Abdo Benítez quer começar a usar as Forças Armadas do país para enfrentar o narcotráfico e o crime organizado. A fuga de um líder do Comando Vermelho nesta semana levou à queda do ministro da Justiça, que já vinha sofrendo desgaste desde junho diante rebeliões organizadas pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) em cadeias paraguaias. Agora, o novo ministro já disse querer agilizar o processo para extradição de presos brasileiros considerados de grande periculosidade.

Nesta quinta-feira, 12, o presidente Benítez disse que apresentará na próxima semana ao Congresso um projeto de emenda à constituição para incluir entre as competências das Forças Armadas a luta contra o narcotráfico e o crime organizado. “Reafirmo minha vontade de apresentar na semana que vem o projeto para usar toda nossa capacidade”, disse Benítez, de acordo com a agência EFE.  

A crise no país vizinho se intensificou quando na quarta-feira, 11, um grupo armado atacou um comboio penitenciário e libertou Jorge Teófilo Samudio, o Samura, tido como um dos líderes do Comando Vermelho no Paraguai. O ataque terminou com a morte do agente Félix Ferrari, atingido por um tiro, e causou reação no país. Nesta quinta, dez homens foram detidos sob a suspeita de envolvimento na emboscada, mas Samura segue foragido.

A pressão sobre Ríos era crescente desde junho, quando uma rebelião do PCC em duas cadeias terminou com dez mortes e 17 feridos. A isso se somou também a fuga de três membros da mesma facção de uma penitenciária no sul do país, ocasião na qual um agente penitenciário foi feito refém.

A procuradoria anunciou que investigará se houve cumplicidade das instituições penitenciárias na fuga de Samura. Um procurador reconheceu que o protocolo para transferência de presos perigosos não foi seguido, e o homem foi transportado como se fosse um detento comum. O fugitivo estava detido desde 10 de outubro de 2018 depois de ter sido capturado em uma operação contra o narcotráfico. Em 2011, uma ação da polícia local encontrou 370 quilos de cocaína em oito aviões que seriam de sua propriedade.

Nesta quinta, o presidente Benítez disse reconhecer que houve corrupção no caso. "Na minha opinião, havia planejamento e cumplicidade de alguns setores. Havia corrupção e dinheiro envolvido. Isso transitou entre as autoridades", disse. “Sabíamos que o fato de tomarmos decisões drásticas, de expulsá-los, de lutar agressivamente contra esse flagelo, ia gerar muitos adversários. Isso é parte de uma guerra frontal.”

O novo ministro da Justiça, Eber Ovelar, disse que trabalhará para agilizar os processos de extradição. “Hoje temos convênios no nível do Mercosul, mas infelizmente as legislações internas impõem objeções para um trâmite rápido de extradição e expulsão”, disse nesta quinta.

Ovelar disse que trabalhará com sua equipe para que, em 15 dias, sejam apresentados dois projetos de lei com intuito de modificar o código penal paraguaio objetivando permitir que “os juízes possam proferir sentenças rápidas e para que não tenhamos mais nas ruas os infratores reincidentes”.

Estado mostrou em junho que as autoridades paraguaias já estimam haver cerca de 400 membros do PCC em presídios do país vizinho; 90% das cadeias teriam detentos ligados ao grupo criminoso. Em novembro do ano passado, o CV fez uma ameaça em vídeo à procuradora-geral do Paraguai, forçando o Ministério do Interior a montar uma operação para protegê-la.

A presença das facções brasileiras no país vizinho se intensificou nos anos 2000 e os dois maiores grupos brasileiros têm forte atuação na região até hoje. O Paraguai é considerado estratégico para os criminosos em razão das plantações de maconha, mas principalmente por integrar um corredor de exportação de cocaína vinda prioritariamente da Bolívia. Em 2016, a morte de Jorge Rafaat, na fronteira do Paraguai com o Brasil, deflagrou uma disputa entre CV e PCC, com consequências que se estendeu a vários Estados brasileiros, levando a um índice de homicídios recorde em 2017./COM EFE