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Na CPI, Araújo diz que Bolsonaro promoveu corrida à cloroquina e culpa Pazuello por vacinas

Segundo ele, foi de Pazuello a decisão de entrar tardiamente na Covax Facility, consórcio da Organização Mundial da Saúde (OMS) para distribuição de vacinas, com reserva de doses para apenas 10% da população


O ex-chanceler Ernesto Araújo jogou nesta terça-feira, dia 18, a responsabilidade sobre a estratégia para obtenção de vacinas para o Ministério da Saúde. Na prática, Araújo implicou o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello na escassez de vacinas, na véspera do interrogatório do general da ativa do Exército à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid. No depoimento, Ernesto Araújo também envolveu diretamente o presidente Jair Bolsonaro nas decisões de mobilizar a rede diplomática do Itamaraty em busca de medicamentos alternativos à vacina e sem eficácia científica comprovada, como a cloroquina fabricada na Índia e um spray nasal em desenvolvimento em Israel.

Evasivo durante o depoimento, Araújo disse que o Itamaraty servia como um executor de solicitações da Saúde, tanto na busca por insumos farmacêuticos, vacinas e equipamentos hospitalares. Toda a coordenação técnica e estratégica, segundo o ex-chanceler, era do Ministério da Saúde. “A linha do Itamaraty foi atuar na linha do que era pedido pelo Ministério da Saúde”, disse o ex-ministro das Relações Exteriores.

Segundo ele, foi de Pazuello a decisão de entrar tardiamente na Covax Facility, consórcio da Organização Mundial da Saúde (OMS) para distribuição de vacinas, com reserva de doses para apenas 10% da população, quando havia possibilidade de solicitar até 50%. Ele negou ter sido contra o ingresso do País no consórcio, decidido em reunião com outros ministros no Palácio do Planalto.

“Essa decisão não foi minha, não foi do Ministério das Relações Exteriores, foi uma decisão do Ministério da Saúde, dentro da sua estratégia de vacinação”, afirmou Araújo.

Ernesto sustentou que o Brasil aderiu tempestivamente à iniciativa da OMS. A intenção foi manifestada primeiro numa carta dele em julho e houve conclusão em setembro. Porém, o embaixador omitiu que houve reuniões prévias de preparação do Covax Facility em abril e maio do ano passado, das quais o Brasil não participou. A entrega de vacinas via Covax também sofreu atrasos.

Araújo disse ainda que nas reuniões ministeriais dais quais participou a compra de vacinas para a covid-19 não era discutida especificamente. A exceção foi o encontro que ocorreu em fevereiro ou março deste ano, quando se teria debatido o contato de Bolsonaro com a Pfizer. “Com exceção em março ou fim de fevereiro onde se decidiu que o presidente faria contato com presidente da PFizer para obtenção da vacina da Pfizer. Foi reunião onde o presidente disse ‘sim, quero falar com o presidente da Pfizer’”, relatou Araújo.

Para senadores oposicionistas da cúpula da CPI, o depoimento de Ernesto deixa Pazuello em situação delicada. “Ele sistematicamente enfatizou que todas as iniciativas da política externa aconteceram em função de decisões e influência do Ministério da Saúde, à exceção da importação de cloroquina, porque ele discutiu com o presidente, e da viagem a Israel. Ao dizer isso ele transfere o ônus da responsabilidade ao ex-ministro Pazuello, diretamente, sem subterfúgios”, disse o relator, Renan Calheiros (MDB-AL).