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Proposta de Trump de adiar eleição é risco para democracia americana, alerta imprensa francesa

O jornal Le Monde diz que Trump cria confusão em torno da votação. Sob pressão da crise sanitária causada pela má gestão da epidemia do coronavírus, e em queda nas pesquisas, Trump sugere uma medida que apenas o Congresso, atualmente dividido, tem o poder de decidir, destaca o Le Monde.


O tuíte de Donald Trump sugerindo o adiamento das eleições de 3 de novembro nos Estados Unidos pela possibilidade de fraudes no voto por correspondência é criticado por toda a imprensa na França.

O jornal Le Monde diz que Trump cria confusão em torno da votação. Sob pressão da crise sanitária causada pela má gestão da epidemia do coronavírus, e em queda nas pesquisas, Trump sugere uma medida que apenas o Congresso, atualmente dividido, tem o poder de decidir, destaca o Le Monde

O jornal Libération faz uma interpretação semelhante. Trump quer vencer a eleição presidencial a qualquer preço, mesmo que seja instaurando uma situação caótica. A proposta tem poucas chances de ser aprovada, na avaliação desse jornal, uma vez que os democratas recuperaram a maioria na Câmara de Representantes.

Mas este foi o único artifício que o magnata encontrou para desviar a atenção dos americanos da situação catastrófica da economia. Para o Libération, a preocupação repentina de Trump com eventuais fraudes é a primeira etapa de uma estratégia para semear a confusão em torno da eleição. Agora que ele admite que a pandemia da Covid-19 ainda está em curso nos Estados Unidos, o republicano tem a "solução mágica" para dissipar o perigo: adiar a votação, já que seu principal argumento político, a economia, está em frangalhos, critica o jornal.

Um adiamento das eleições seria um evento histórico, prossegue Libération. Nunca ocorreu em nível nacional, mesmo em tempos de guerra, desde a entrada em vigor em 1845 das atuais leis eleitorais. Certamente foi decidido algumas vezes no nível local, para eleições primárias, como recentemente em vários estados devido à epidemia e, principalmente, após os ataques de 11 de setembro de 2001 nas regiões imediatamente afetadas, como Nova York. Segundo o Libération, tanto os congressistas da Câmara quanto os do Senado, dominado pelo Partido Republicano, estão cada vez mais preocupados com os impulsos ditatoriais de Trump.

Democracia em perigo

O diário católico La Croix também vê a democracia americana em perigo. Além da campanha, agora é a própria legitimidade da eleição que está sendo atacada, escreve o diário.

Trump questiona a votação por correspondência no momento em que muitos estados planejam usá-la por causa da pandemia. Ele já havia considerado publicamente não reconhecer uma possível derrota. Isso só pode ser visto como mais uma bravata, destinada a mobilizar um eleitorado sensível a seus excessos.

Ao instilar o vírus da desconfiança nas eleições, o presidente dos EUA corre o risco de acrescentar aos riscos econômicos e de saúde um risco político, conclui La Croix.