Entretenimento

Série "Sløborn", entre pandemia e realidade

O drama de Steven Soderbergh Contágio, estrelado por Matt Damon, Kate Winslet e Gwyneth Paltrow, se situou entre os dez principais títulos no iTunes, ficou entre os mais comentados no Amazon Prime e foi o longa mais assistido dos estúdios da Warner Bros, atrás somente da saga de Harry Potter.


A catástrofe chega sorrateira: um veleiro à deriva aporta numa ilha do Mar do Norte cujos moradores ainda estão ocupados com os problemas do dia a dia. Aparecem os primeiros sintomas de resfriado, de cuja causa ninguém suspeita. Casualmente, no noticiário já se fala sobre um vírus na Ásia, uma gripe de pombos fictícia. Um cenário que há alguns meses se tornou familiar.

A série Sløborn, encomendada pelo canal alemão ZDFneo, narra em oito episódios como um vírus se alastra – em âmbito mundial, e de repente também dentro da própria casa. Projetada pelo diretor Christian Alvart, ela foi escrita e filmada antes da eclosão do coronavírus e agora se beneficia de maneira macabra da verdadeira pandemia, com altos índices de audiência.

Nisso, a coprodução alemã, dinamarquesa e polonesa não está sozinha: diversos filmes-catástrofe abordam a disseminação de vírus mortais, integrando um gênero que subitamente voltou a ser popular, desde o início da pandemia, com títulos como Epidemia (1995) e Contágio (2011) subindo nas buscas de serviços de streaming em março.

O drama de Steven Soderbergh Contágio, estrelado por Matt Damon, Kate Winslet e Gwyneth Paltrow, se situou entre os dez principais títulos no iTunes, ficou entre os mais comentados no Amazon Prime e foi o longa mais assistido dos estúdios da Warner Bros, atrás somente da saga de Harry Potter.

 

Entretenimento em vez de doutrinação

Entre os espectadores recentemente atraídos pela pandemia, está o cineasta americano e ganhador do Oscar Barry Jenkins: "Paguei 12,99 dólares para assistir a um filme de dez anos. Nunca fiz isso antes", contou ao jornal New York Times. Mas por que esse assunto interessa tanto, justamente quando o mundo se encontra numa situação análoga?

"Fiquei impressionado com a clarividência do filme", disse Eckhard Pabst, teórico do cinema da Universidade Christian Albrecht, em Kiel, em conversa com a DW sobre Contágio. "Muitos detalhes me lembraram a realidade que eu estava vivendo." Para ele, os paralelos entre filme e realidade revelam um certo padrão: "Os espectadores veem: o processo não é caótico, as medidas seguem um plano."

Isso poderia ajudar a enfrentar mentalmente a situação real, e "apesar de todo o horror, dessa temática também pode emanar alguma calma". Traçar tais paralelos também era o objetivo de Barry Jenkins, que queria ver quão realista é o roteiro do filme, quando referência é a própria realidade.

Primeiro caso fatal em

© ZDF und Krzysztof Wiktor Primeiro caso fatal em

Em inúmeros filmes-catástrofe, a má conduta humana contribui para a disseminação da doença. Na opinião de Pabst, porém, isso não resulta em nenhum efeito educacional: "Os filmes podem fortalecer um discurso, por exemplo, sobre o uso de máscaras. O comportamento do público, porém, não muda de forma duradoura por causa disso." Mesmo em temáticas realistas, a maioria dos espectadores está interessada em entretenimento.

Após a transmissão dos quatro primeiros episódios, a reação do público a Sløborn é comedida - provavelmente também porque se sabe, através do noticiário, que nenhum virologista está autorizado a emitir instruções a um prefeito, como acontece na série. O alemão Christian Alvart, que também dirigiu a série da Netflix Dogs of Berlin, permite em Sløborn que as Forças Armadas da Alemanha intervenham – de maneira rápida e em parte violenta. Aqui também se vê uma discrepância em relação à realidade da pandemia do coronavírus. Felizmente.

As oito partes da série Sløborn estão disponíveis na biblioteca virtual da emissora ZDF.