Política

Análise: Reunião mostra clima hostil que deve isolar o governo ainda mais

Os trechos veiculados pouco se parecem com uma reunião ministerial que precisa debater a maior crise sanitária da história do Brasil.


Nas imagens da reunião ministerial de 22 de abril, revelou-se aquilo que parecia o grande segredo da República, o que deveria estar longe nos olhos de todos, porque transparece processos muito secretos, que colocariam o mandato presidencial em risco. Uma reunião ministerial é um espaço de tomada de decisão. O analista organizacional John Forester nos ensina que ao olharmos uma reunião de tomada de decisão, sempre devemos verificar qual a agenda dos participantes, suas motivações, interesses, desejos e intenções. Queremos também saber dos aspectos econômicos, custos dos projetos, benefícios a serem gerados e possíveis efeitos adversos. Porém, queremos saber mais do que isso; das alianças que são formadas e quem é leal a quem.

Os trechos veiculados pouco se parecem com uma reunião ministerial que precisa debater a maior crise sanitária da história do Brasil. Em meio aos diversos assuntos, parece que o grupo reunido está em uma mesa de botequim, com uma linguagem que remete o tempo todo para uma figura central: o presidente da República. Bolsonaro, confunde o que seria a sua persona com o próprio País. Usa uma linguagem muito autocentrada, cobrando lealdades a si. Alguns deles respondem no mesmo tom, como o da Educação, que também se coloca como vítima de todos e que está a serviço do presidente, indiretamente cobrando a mesma postura de seus colegas, e sendo muito agressivo. Mostra uma postura belicosa em relação aos demais poderes, falando que não é para haver diálogo, mas enfrentamento, não sendo desautorizado pelo presidente.

Para um governo que precisa ampliar apoios para buscar sustentação política no Congresso, que precisa dialogar com governadores e prefeitos – que também aparecem sendo xingados no vídeo – para juntos combaterem o problema mais desafiador do país, a covid-19, o vídeo joga governo ainda mais no isolamento e tem potencial para diminuir a sua reputação tanto interna, junto aos que ainda o apoiam; quanto externa, pela forma em que as questões públicas e em relação a outros países são tratadas. A serenidade é exigida para buscar saídas para uma crise cada vez mais extensa com enorme potencial de dano à vida das pessoas e a democracia. Tudo que não precisávamos era mergulhar nessa crise política nebulosa que aponta um dilema entre o impeachment e a tensão constante como sendo o execrável “novo normal”.

 

 

 

* PROFESSORES DA FGV EAESP