Saúde

Paralisação por atraso do 13° reduz atendimentos e expõe crise na Santa Casa

Hospital alega que enfrenta crise financeira e não consegue arcar com os pagamentos do 13° salário


Enfermeiros da Santa Casa de Campo Grande protestaram pelas ruas do Centro, após votar por unanimidade a paralisação da categoria, na manhã desta segunda-feira (22). Com isso, cerca de 70% da equipe será reduzida e apenas 30% estarão atuando nos setores. O hospital enfrenta um colapso financeiro, que reflete no pagamento do 13° salário de todos os funcionários, desde médicos até o setor administrativo.

Lázaro Santana, presidente do Siems (Sindicato dos Trabalhadores na Área de Enfermagem de Mato Grosso do Sul), informou que a categoria recusou a proposta inicial de parcelamento do 13° em três vezes. A proposta previa o pagamento entre janeiro e março de 2026.

“Nós fomos comunicados que o hospital não tem dinheiro para pagar o trabalhador. Segundo a administração, estavam aguardando um aporte financeiro de R$ 9 milhões do Governo do Estado. Esse dinheiro pagaria 95% dos trabalhadores. Na reunião, votamos o indicativo de paralisação. Nesse período, com o número de 30% nas mobilizações”, descreve.

Santana descreve que o ano foi marcado por atrasos salariais e que o hospital deve fechar o ano, novamente, com o problema. “Eles dizem que não têm dinheiro para pagar, mas é direito do trabalhador cobrar aquilo que é devido. Toda essa indignação é por conta de uma problemática que vem acontecendo ao longo dos anos, ninguém se responsabiliza: Prefeitura, Estado ou a Santa Casa”.

Presidente do SinMed-MS (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul), Marcelo Santana Silveira diz que o problema do atraso salarial se estende aos trabalhadores da fisioterapia, psicologia, nutrição, lavanderia, copa e cozinha.

“A assistência de 30% é garantida. Vai atrapalhar o serviço? Lógico que vai. Onde tem quatro, fica dois, não vai conseguir lavar cinco mil quilos de roupas, não vai conseguir preparar cinco mil refeições em tempo hábil. Só que o grande prejudicado nisso são os trabalhadores.”

 

Médicos também foram afetados

A Dra. Isabela Falcão, diretora clínica da Santa Casa e representante dos médicos, salienta que a categoria PJ (Pessoa Jurídica) está com atraso salarial há seis meses. O setor enfrenta defasagem, pois muitos pediram dispensa diante da situação.

“Já oficializaram a saída, para o dia 28 de dezembro, a urologia junto do transplante renal; 4 de janeiro, a ortopedia; 3 de janeiro, a radiologia; e, 15 de março, a cirurgia geral. A partir dessas datas, as equipes não trabalham aqui. Das equipes que estão trabalhando parcialmente, estão os anestesistas e a cardiologia intervencionista.”

Recentemente, o CRM-MS (Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul) emitiu uma nota de alerta sobre o risco iminente de desassistência na unidade diante da falta de insumos, medicamentos e equipe. Um documento foi enviado para a Secretaria Municipal de Saúde, Vigilância Sanitária, ao Ministério Público e também ao Jurídico do Estado.

“Nós estamos trabalhando no limite, nosso limite técnico, porque a falta de insumos básicos é muito grande, falta antibiótico, falta soro, falta equipe, falta reposição de anetrólitos, que são essenciais para os pacientes.”

Os esforços na estrutura sucateada

Rafaela Luz de Lima, técnica de enfermagem do hospital desde 2019, desabafa sobre o cansaço na rotina durante a atuação na linha de frente. A categoria lamenta o desgaste psicológico durante o trabalho e o atraso salarial.

“Somos usados como fantoche. É um direito [receber salário], sabemos que tem repasse, mas fazem para pedir mais verba. Temos um aplicativo para ver nosso holerite, o documento é enviado, mas o dinheiro não entra na conta na data correta. Trabalho aqui desde 2019. Nós somos linha de frente e, quando acontece paralisação, os pacientes acham que a culpa é nossa, ficam bravos. Quando o setor fica desassistido, quem escuta eles enfurecidos somos nós”, desabafa.

O desabafo é semelhante ao do assessor de elevador José Fernando, que reclama dos danos recorrentes na estrutura. De seis elevadores, apenas dois estão funcionando.

“Estou há três anos sem receber aumento. A assistência de elevador tem que receber 40% de insalubridade e eles cortaram para 20%. Falta material, tem maca estragada, ar-condicionado que molha o chão e tem cadeira de rodas estragada.”

O que diz a Santa Casa

Na última sexta-feira (19), a Santa Casa informou que, em anos anteriores, o Governo do Estado aportava a 13ª parcela da contratualização a todos os hospitais filantrópicos de MS. Contudo, neste ano, informou que não haverá o repasse.

“O secretário de Saúde, Dr. Mauricio Simões, informou à Fehbesul [Federação das Filantrópicas] que fará o repasse em três parcelas, nos meses de janeiro, fevereiro e março. A Santa Casa transmitiu a informação aos sindicatos e seguirá buscando outros meios para solucionar a questão, mas, até o momento, sem previsão.”

“Há anos o Governo do Estado vinha repassando a competência do contrato dele, e nos sempre usamos para pagar o 13⁰ salário. Esse ano o Governo do Estado disse que não vai passar. A Santa Casa reconhece a legitimidade do movimento, mas os recursos são finitos e o nosso problema está na falta do equilíbrio econômico-financeiro do contrato”, disse Alir terra, presidente da Santa Casa.