O jornal britânico The Guardian, publicou nesta segunda-feira (08/12) uma entrevista com o diplomata brasileiro Celso Amorim, assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, enfocada no conflito entre Estados Unidos e Venezuela e suas possíveis consequências para o Brasil.
Na matéria, escrita pelo correspondente Tom Phillips, Amorim classificou a recente decisão do presidente norte-americano Donald Trump de ordenar o fechamento do espaço aéreo venezuelano como “um ato de guerra”. Ademais, expressou seus temores de que a crise possa se intensificar nas próximas semanas.
Segundo o assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, “a última coisa que nós (Brasil) queremos é que a América do Sul se torne uma zona de guerra”.
“Uma zona de guerra que inevitavelmente não seria apenas uma guerra entre os Estados Unidos e a Venezuela. Acabaria tendo envolvimento global e isso seria realmente lamentável”, disse Amorim, que foi ministro das Relações Exteriores durante os dois primeiros mandatos de Lula, entre 2003 e 2011.
Em outro trecho da entrevista, Amorim argumenta que “se houvesse uma invasão, uma invasão de verdade, acho que sem dúvida veríamos algo semelhante ao Vietnã. Em que escala é impossível dizer”.
“Eu conheço a América do Sul. Todo o nosso continente existe por causa da resistência contra invasores estrangeiros”, acrescentou o veterano diplomata, ao sugerir que um ataque de Washington contra Caracas poderia reacender sentimentos anti estadunidenses na América Latina.
Futuro da Venezuela e de Maduro
Na entrevista, Amorim disse que o Brasil considera que “houve problemas” nas eleições presidenciais venezuelanas de 2024, vencidas pelo atual presidente Nicolás Maduro, mas que, apesar disso, o país se opõe a uma mudança forçada de regime em Caracas.
“Se cada eleição questionável desencadeasse uma invasão, o mundo estaria em chamas”, disse o assessor especial, que acrescentou estar falando em caráter pessoal e não em nome do presidente Lula.
Diante da pergunta do correspondente sobre uma possível renúncia do presidente da Venezuela, Amorim afirmou que “se Maduro chegar à conclusão de que deixar (o poder) é o melhor para ele e para a Venezuela, será uma conclusão dele. O Brasil nunca vai impor isso”.
O ex-chanceler também disse, novamente em caráter pessoal, que torce para uma “solução negociada” entre Trump e Maduro, mas reconhece que “o clima está cada vez mais beligerante”.
Ademais, Amorim defendeu que a Venezuela promova um novo referendo revogatório, semelhante ao realizado na Venezuela em 2004, como forma de contornar a situação política.
Ele lembrou que, naquele então, “(Hugo) Chávez (presidente da Venezuela à época) aceitou a ideia, com alguma relutância, mas aceitou. Houve um referendo e ele venceu (…) não sei quem venceria agora”.
Com informações de The Guardian.






